Leishmaníase (leishmaniose): cutânea, tegumentar, visceral, calazar e tudo mais sobre Leishmania

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Dando continuidade aos nossos artigos sobre parasitologia, nesse texto vamos explicar tudo o que você sempre quis sobre leishmaníase, ou leishmaniose. Vamos abordar o ciclo, tipos, sintomas, diagnóstico, tratamento, prevenção e as principais questões sobre assunto. Veja quais são:

1. O que é leishmaníase (leishmaniose)?

2. Qual o agente causador da leishmaníase?

3. Quais os tipos de leishmaníase?

– Informações sobre calazar

– Informações sobre leishmaniose visceral

– Informações sobre leishmaniose tegumentar

– Informações sobre leishmaniose cutânea

– Informações sobre leishmaniose mucocutânea

4. Quem é o hospedeiro intermediário e o definitivo na leishmaníase?

5. Qual a participação do mosquito palha na leishmaníase?

6. Como é o ciclo da leishmaníase

7. O que o cachorro tem a ver com a leishmaníase?

8. Quais os sintomas de leishmaníase?

9. Como é feito o diagnóstico da leishmaníase?

10. Como é o tratamento da leishmaníase?

11. Como ocorre a transmissão da leishmaníase?

12. Leishmaníase tem cura?

13. Como deve ser a prevenção da leishmaníase?

Fique aqui conosco que eu tenho certeza que você vai encontrar as respostas para as suas perguntas sobre leishmaníase. Boa leitura!

 

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O que é leishmaníase (leishmaniose)?

A leishmaníase, ou leishmaniose, é uma doença infecciosa parasitária não contagiosa causada por um protozoário do gênero Leishmania, cujo vetor é o fletobotomíneo, uma subfamília de mosquitos. O protozoário é transmitido ao hospedeiro através da picada de flebotomíneos fêmeas. A doença é comum nas regiões da Ásia, África, América Central e do Sul e Europa Mediterrânea, sendo considerada uma doença tropical negligenciada. É considerada uma zoonose por ocorrer comumente em roedores e alguns mamíferos como cachorros e gatos.

Qual o agente causador da leishmaníase?

O agente causador da Leishmaníase é o protozoário Leishmania spp da família Trypanosomatidae. São dimórficos, possuindo duas diferentes formas: amastigota e promastigota.

A forma amastigota possui morfologia ovoide, com núcleo lateralizado, sendo a forma não infecciosa encontrada intracelularmente em células fagocíticas do vetor. Já a forma promastigota tem morfologia alongada, com núcleo centralizado e flagelo, sendo a forma infecciosa encontrada principalmente no trato intestinal do vetor.

Atualmente foram descritas 53 espécies para o gênero Leishmania, sendo 31 capazes de infectar mamíferos e 20 capazes de infectar humanos.

Leishmania spp agente causador da leishmaníase Leishmaníase protozoário amastigota promastigota Trypanosomatidae

Quais os tipos de leishmaníase?

Existem três formas da doença: visceral, tegumentar e mucocutânea. As manifestações clínicas e evolução da doença dependem da resposta imune do hospedeiro e da espécie do parasito. Os hospedeiros podem passar anos sem manifestação clínica ou evolução a um quadro mais grave da doença, como podem evoluir diretamente para quadros mais graves.

Leishmaníase visceral (calazar)

A leishmaníase visceral, ou calazar, é a forma mais grave da doença onde o parasito migra para órgãos viscerais como fígado, baço, linfonodos e medula óssea infectando-os e levando o hospedeiro a óbito em 90% dos casos.

Leishmaníase tegumentar (cutânea)

A leshmaníase tegumentar, ou cutânea, é a forma mais comum da leishmaníase. O hospedeiro desenvolve feridas indolores geralmente arredondadas com bordas elevadas e bem delimitadas. Geralmente as feridas se curam espontaneamente sem demais complicações. Porém podem ocorrer infecções secundárias das úlceras por bactérias ou ainda pode haver a evolução da doença para formas mais graves da doença.

Leishmaníase mucocutânea

A leishmaníase mucocutânea é a forma grave da leishmaníase cutânea pois ocorrem lesões cutâneas e nas mucosas e cartilagens podendo resultar em deformações da face e em casos mais graves a comprometimentos das vias respiratórias, levando a óbito.

Quem é o hospedeiro intermediário e o definitivo na leishmaníase?

Hospedeiro intermediário: Mosquito (fêmea) – Flebotomíneos

Hospedeiro Definitivo: Humanos

Qual a participação do mosquito palha na leishmaníase?

Mosquito palha, ou ainda birigui, são denominações populares para os mosquitos da subfamília dos flebotomíneos. Eles são os hospedeiros intermediários da Leishmania spp, contraindo-as de humanos e alguns outros mamíferos, e posteriormente infectando indivíduos saudáveis. Os parasitos ficam alojados no intestino dos mosquitos onde se reproduzem e mudam para a forma infecciosa, promastigota, migrando posteriormente para a probóscide.

flebotomo mosquito palha flebotomíneos Leishmania spp agente causador da leishmaníase Leishmaníase protozoário amastigota promastigota Trypanosomatidae
Flebotomíneo Fêmea após se alimentar (Jornal USP)

Como é o ciclo da leishmaníase?

Os flebotomíneos injetam promastigotas residentes em sua probóscide durante sua alimentação hematófaga (1). Esses promastigotas são fagocitados por macrófagos e outros tipos celulares fagocíticos (2). Uma vez fagocitados, os promastigotas mudam para a forma não infecciosa chamada amastigota (3) e começam a se dividir por mitose até atingir a capacidade máxima suportada pela célula que os fagocitaram estourando-a e sendo liberados para infectar outras células fagocíticas mononucleares (4). Ao se alimentar, o flebotomíneo ingere células infectadas se infectando (5,6). No intestino dos flebotomíneos, os amastigotos se transformam em promastigotas e se desenvolvem (7), migrando posteriormente para a probóacide (8).

Ciclo de Vida Leishmaniose flebotomo mosquito palha flebotomíneos Leishmania spp agente causador da leishmaníase Leishmaníase protozoário amastigota promastigota Trypanosomatidae

Ciclo de vida leishmaníase fonte: Adaptada de CDC, 2017)

O que o cachorro tem a ver com a leishmaníase?

Os cachorros são os principais reservatórios da doença em meio urbano, podendo ou não desenvolver os sintomas. Podem desenvolver as três formas da leishmaníase, podendo vir a óbito. O tratamento vigente não elimina totalmente o parasito do organismo de cães, fazendo com que esses animais continuem como fontes de infecção para o vetor, configurando risco para a saúde humana. Neste caso a eutanásia é recomendada como método de controle da doença.

Quais os sintomas de leishmaníase?

Os sintomas da leishmaníase são diversos e podem variar em cada indivíduo dependendo da resposta imune e da forma de manifestação da doença.

No caso da leishmaníase tegumentar, os principais sintomas são os surgimentos de lesões com aspectos de úlceras, com bordas elevadas e fundo granuloso e avermelhado, geralmente indolor.

Já na leishmaníase mucocutânea os sintomas irão variar de acordo com a região acometida, sendo mais comum serem acometidos nariz (entupimento, sangramento e coriza), boca e garganta (dor ao engolir, rouquidão e tosse).

Na leishmaníase visceral os principais sintomas são febre de longa duração, aumento do fígado (hepatomegalia) e baço (esplenomegalia), anemia e redução da força muscular. A forma visceral, se não tratada, geralmente é fatal. O diagnóstico precoce é difícil pois vários dos sintomas são comuns a outras doenças parasitárias.

Como é feito o diagnóstico da leishmaniose?

O diagnóstico precoce é vital para o tratamento da leishmaníase, principalmente na forma visceral da doença. Os métodos são diversos, a depender da forma manifestada da doença no indivíduo.

O método padrão-ouro largamente utilizado em laboratórios de análises clínicas é a análise morfológica, ao microscópio óptico, do parasito. Na forma cutânea são utilizados aspirados da ferida ou mesmo esfregaços de biópsias dessas lesões. Amostras das lesões ainda podem ser utilizadas para cultivo em meio ágar sangue. Na forma visceral os parasitos são obtidos através de aspirados sanguíneos, geralmente do baço, mas podendo ser da medula óssea, linfonodos ou fígado.

Existem métodos moleculares, como o PCR, que identificam o DNA do parasito na amostra do paciente. Apesar de terem sensibilidade de até 94%, dependem de diversos fatores como a procedência do doente, tipo de amostra, alvo do DNA utilizado para amplificação e o método de extração de DNA utilizado.

Métodos sorológicos como ELISA são mais utilizados em estudos epidemiológicos, podendo ser utilizados como método diagnóstico. Porém tem alto custo e eficácia variável. Um método imunológico amplamente utilizado é o Teste de Montenegro, onde é feita uma inoculação intradérmica de antígenos de promastigotas de Leishmania spp e é avaliada a resposta imune local após 48h e 72h.

Como é o tratamento da leishmaniose?

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento, assim como diagnóstico, gratuito para as três formas da leishmaníase. Para a leishmaníase tegumentar e mucocutânea é adotado o protocolo de tratamento intralesional, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), onde são administradas injeções em pequenas doses do medicamento antimoniato de meglumina, que inibe seletivamente diversas enzimas da Leishmania spp.

Para a leishmaníase visceral são utilizados três fármacos, a depender da indicação médica: antimoniato de N-metil glucamina, a anfotericina B lipossomal e o desoxicolato de anfotericina B. Nenhum dos fármacos elimina por completo o parasita nas pessoas e cães.

Como ocorre a transmissão da leishmaniose?

A transmissão da leishmaníase ocorre a partir da alimentação hematófaga do flebotomíneo, que pode estar contaminado e contaminar o hospedeiro, ou ainda contrair o parasito do hospedeiro infectado.

Leishmaniose tem cura?

Não. Existem tratamentos eficazes em acabar com as lesões e altas cargas parasitárias, mas nenhum dos tratamentos elimina completamente a Leishmania spp dos indivíduos. O parasito continua presente nos organismos, mesmo que em baixa carga parasitária.

Como deve ser a prevenção da leishmaniose?

A leishmaníase não é uma doença transmitida entre pessoas, somente do flebotomíneo para o humano, portanto os esforços devem se concentrar em eliminar os focos do mosquito e evitar o surgimento de reservatórios, como cachorros parasitados.

• Medidas de proteção individual: uso de repelente, evitar circulação em áreas de mata em locais com potencial de transmissão, evitar exposição em horários de maior atividade do flebotomíneo (crepúsculo e noite).

• Medidas contra o vetor: Manejo ambiental para evitar o estabelecimento de criadouros de larvas e uso de inseticida.

• Medidas de proteção ao animal de estimação: limpeza periódica dos abrigos e vasilhas de água e comida, evitar a exposição do animal a áreas de potencial transmissão e resguardar os animais em horário de maior atividade do vetor (crepúsculo e noite).

Bibliografia

Centers for Disease Control and Prevention: https://www.cdc.gov/dpdx/leishmaniasis/index.html

David M Claborn. The Biology and Control of Leishmaniasis Vectors. J Glob Infect Dis. 127–134 (2010).

Ministério da Saúde – Leishmaníase Tegumentar: https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/leishmaniose-tegumentar

Ministério da Saúde – Leishmaníase Visceral: https://saude.gov.br/saude-de-a-z/leishmaniose-visceral

 

Autor

João Victor Roza Cruz

Biomédico, Especialista em Biologia Molecular, Doutorando em Ciências Morfológicas.

 

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