Estrongiloidíase: o que é, ciclo, transmissão, sintomas, tratamento e o que mais você precisa saber!

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Nesse artigo vamos tirar todas as suas dúvidas sobre a estrongiloidíase e sobre a parasitologia do Strongyloides stercoralis. Seguem abaixo algumas das perguntas que vamos responder nesse texto:

O que é estrongiloidíase?

Como é a morfologia do agente causador da estrongiloidíase (Strongyloides stercoralis)?

Como são as larvas do agente etiológico da estrongiloidíase

Como é o ciclo na estrongiloidíase

Como ocorre a transmissão da estrongiloidíase?

Quais são os sintomas da estrongiloidíase?

O que é estrongiloidiase disseminada (ou Síndrome de Hiperinfecção por Strongyloides)?

Como é feito o diagnóstico da estrongiloidíase?

Qual o tratamento da estrongiloidíase?

Esperamos que você possa encontrar as respostas para as suas principais dúvidas sobre a estrongiloidíase nesta leitura.

Está pronto? Então vamos lá!

  

O que é estrongiloidíase?

A estrongiloidíase também é conhecida como estrongiloidose ou anguilulose. É uma doença parasitária intestinal causada pelo helminto da espécie Strongyloides stercoralis. Em alguns países ela também pode ser causada pelo Strongyloides fuellerborni, mas a primeira espécie é a mais comum. Nesse sentido ela apresenta maior importância clínica para o homem, infectando 30 a 100 milhões de pessoas em todo o mundo. De maneira geral, o Strongyloides stercoralis é um parasita o intestino humano, então os principais sintomas estão relacionados a alterações nesse órgão. Mas existem diversas manifestações clínicas, relacionadas aos estágios da doença, bem como ao órgão afetado. No caso específico da infecção aguda, podemos identificar alguns sintomas como reação local no sítio de entrada da larva, tosse, irritação traqueal (mimetizando uma bronquite, devido à passagem das larvas pelo pulmão), diarreia aquosa, cólicas, inchaços abdominais e, em alguns casos, constipação, devido ao alojamento e maturação das larvas no intestino delgado. Adiante vamos abordar mais sobre as principais manifestações clínicas da estrongiloidíase.

 

Como é a morfologia do agente causador da estrongiloidíase?

A morfologia do Strongyloides stercoralis é varia conforme a fase e etapa do ciclo no qual ele se encontra. No ciclo de vida livre a fêmea mede 1 a 1,5 mm de comprimento, apresentando o corpo fusiforme. Sua extremidade anterior é mais romba e possui uma boca cercada de três pequenos lábios. Já sua extremidade posterior é constituída por uma cauda afilada. O macho é menor, medindo cerca de 0,7 mm de comprimento, e apresenta cauda curvada ventralmente.

Os vermes vivem no solo, ou nas fezes, se alimentando de bactérias e restos orgânicos. A fêmea põe ovos com casca bem fina.

Quando as larvas eclodem, elas são conhecidas como rabditoides, e medem 200 a 300 um de comprimento. Essas larvas sofrem maturação até se tornarem vermes adultos de vida livre.

Algumas larvas rabditoides evoluem para formar larvas filarioides. Elas medem cerca de 500 um e são bastante ativas e podem penetrar na pele do hospedeiro, completando sua evolução.

Já no intestino humano, as larvas evoluem para fêmeas adultas, que apresentam características bem diferentes das fêmeas de vida livre. Elas são maiores, medindo cerca de 2,2 mm de comprimento, e bem mais finas.

Nas próximas perguntas vamos apresentar mais algumas imagens das larvas de Strongyloides stercoralis.

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(fonte: Rey, 2010).

 

Como são as larvas do agente etiológico da estrongiloidíase?

Existem dois tipos básicos de larvas de Strongyloides stercoralis, as larvas rabditoides e as larvas filarioides. As larvas que eclodem dos ovos, são conhecidas como rabditoides. Elas apresentam a metade anterior cilíndrica (corpo do esôfago), um pseudobulbo no meio, seguido de uma porção estreita (istmo). Em geral elas são menores, medindo 200 a 300 um de comprimento.

As larvas filarioides apresentam esôfago muito longo e cilíndrico, sem dilatação bulbar, assim como as filárias. Elas são maiores, medindo cerca de 500 um de comprimento.

Também existem os vermes adultos fêmeas e machos de vida livre, bem como as fêmeas parasitas.

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(fonte: adaptado de cdc.gov)

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(fonte: adaptado de cdc.gov)

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(fonte: adaptado de cdc.gov)

 

Como é o ciclo na estrongiloidíase?

De maneira geral, o ciclo na estrongiloidíase pode ser dividido em duas etapas, o ciclo de vida livre e o ciclo parasitário.

 

Ciclo de vida livre

O ciclo de vida livre inicia com a liberação das larvas rabditoides com as fezes de um paciente infectado. As larvas rabditoides podem se desenvolver em vermes fêmeas e machos adultos de vida livre. Os vermes adultos copulam e a fêmea põe ovos que original larvas rabditoides. As larvas rabditoides sofrem maturação e originam larvas filarioides que estão aptas a penetrar na pele humana. Esse é o ciclo indireto (de vida livre). No ciclo direto (de vida livre) algumas larvas rabditoites liberadas com as fezes sofrem maturação direta originando larvas filarioides. Essas já apresentam potencial de infecção de novos seres humanos. Os ciclos direto e indireto darão origem a larvas filarioides que podem penetrar na pele de novas pessoas.

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(fonte: adaptado de cdc.gov)

 

Ciclo parasitário

Ao penetrarem na pele do ser humano, as larvas filarioides migram para o intestino delgado. Elas podem entrar na corrente sanguínea e irem até os pulmões. Lá elas atravessam os alvéolos e são expelidas junto com o muco. Ao atingirem a laringe elas podem ser deglutidas e migrarem para o intestino delgado. Alguns autores também sugerem que as larvas podem migar diretamente pelas vísceras. Ao chegarem ao intestino delgado as fêmeas adultas partenogenéticas põem ovos. Dos ovos eclodem larvas rabditoites que podem ser eliminadas junto com as fezes, contaminando o ambiente. As larvas rabditoites também podem penetrar na mucosa do intestino grosso, ou da região perianal. Nesse caso elas entram na corrente sanguínea e seguem novamente em direção ao intestino delgado, originando novas fêmeas parasitas.

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(fonte: adaptado de cdc.gov)

 

Como ocorre a transmissão da estrongiloidíase?

A transmissão da estrongiloidíase ocorre quando as larvas filarioides infectantes penetram através da pele. Elas também podem penetrar pelas mucosas da boca e do esôfago. Em pessoas que não utilizam calçados, essa penetração geralmente ocorre pelos pés. Esse parece ser o método de transmissão mais frequente, principalmente em zonas endêmicas. Nesses casos nós chamamos de hetero ou primo-infecção.

Também há a possibilidade de ocorrer a autoinfecção externa, ou exógena. Ela ocorre quando as larvas rabditoides presentes na região perianal de indivíduos infectados transformam-se em larvas filarioides infectantes e penetram nesse local, completando o ciclo direto. Essa maneira de infecção é mais comum em crianças, idosos ou pacientes que utilizam fralda. Ou ainda em pacientes que apresentam dificuldade de higienização da região perianal.

Já a autoinfecção interna, ou endógena, ocorre quando as larvas rabditoides, ainda no lúmen intestinal, transformam-se em larvas filarioides e penetram na mucosa intestinal do intestino grosso. Esse é um dos principais mecanismos que pode levar à cronicidade da doença. Ela pode ocorrer muitas vezes em pacientes com imunossupressão. Quando há aceleração da autoinfecção, podemos observar um grande aumento do número de parasitas no intestino e nos pulmões, levando à hiperinfecção. Essa é uma forma muito grave da doença, potencialmente fatal.

 

Quais são os sintomas da estrongiloidíase?

As manifestações clínicas da estrongiloidíase estão relacionadas aos locais pelos quais o Strongyloides entra, ou passa, no organismo humano. Abaixo vamos subdividir para facilitar a compreensão:

 

Pele

A lesões cutâneas podem ser discretas e passar despercebidas. Em outras pessoas elas podem se manifestar como pontos ou placas eritematosas. Essas lesões geralmente aparecem no local de penetração, como nos pés.

 

Pulmões

Como as larvas podem passar pelos pulmões (ciclo pulmonar), podemos encontrar locais com hemorragias petequiais ou profusas. Também podem ser observadas lesões inflamatórias e pneumonite difusa, característica da síndrome de Loeffler. Nos casos mais graves pode haver derrame pleural que pode ser agravado caso as larvas permaneçam por mais tempo nos pulmões.

 

Intestino

Como são nematoides intestinais, grande parte da sintomatologia é manifestada no intestino delgado. Mais especificamente, no duodeno e no jejuno podemos diversos pontos de lesão mecânica, histolítica e irritativa. Isso tudo pode produzir processos inflamatórios, hemorrágicos, ulcerações, congestão, edema, perda de pregas e vilosidades, entre outras características. Em muitos casos ocorrem diarreicas mucossanguinolentas.

 

O que é estrongiloidiase disseminada (ou Síndrome de Hiperinfecção por Strongyloides)?

Como já dissemos anteriormente, geralmente a estrongiloidíase é assintomática, ou oligossintomática. Mas em alguns casos específicos a infecção por Strongyloides stercoralis pode desenvolver quadros muito graves. Nós chamamos de síndrome de hiperinfecção e/ou disseminação. A estrongiloidíase também pode persistir por décadas no hospedeiro, não sendo diagnosticada. Os casos de Síndrome de Hiperinfecção por Strongyloides (SHS) são caracterizados pelo aumento do número de larvas que são excretadas nas fezes ou no escarro. Isso ocorre em conjunto com outros sintomas do trato gastrointestinal e respiratório. Normalmente nesta fase da doença as larvas estão confinadas nos locais nos quais o ciclo parasitário ocorre, como pele, pulmões e intestino. Mas quando as larvas são encontradas em outros órgãos, como, por exemplo, cérebro, fígado e rins, a estrongiloidíase passa a ser conhecida como a forma disseminada. Nesses casos a forma da estrongiloidíase é considerada como a mais grave e de maior índice de mortalidade.

 

Como é feito o diagnóstico da estrongiloidíase?

A estrongiloidíase produz sintomas que se assemelham a outras doenças. Então, o diagnóstico clínico é incerto, devendo ser solicitado um exame parasitológico de fezes. O exame de fezes é o principal recurso para comprovar a presença de estrongiloidíase. Nesse caso deve ser realizada a pesquisa de larvas rabditoides, não ovos.

Os métodos de enriquecimento de Baermann e o de Rugais são os mais adequados. Eles se baseiam no hidro e termotropismo das larvas rabditoides de Strongyloides. Esses métodos são bem simples e rápidos, com respostas dentro de uma ou duas horas. Resumidamente, a matéria fecal é posicionada sobre uma tela forrada de gaze. Esse conjunto é colocado em contato com água morna, e as larvas migram para a água e sedimentam.

Também pode ser utilizados métodos de cultura de larvas (coprocultura), como o de Harada-Mori (em tubos de ensaio).

Alguns métodos imunológicos, como o teste de ELISA, também podem ser utilizados.

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Qual o tratamento da estrongiloidíase?

O tratamento da estrongiloidíase é um dos mais difíceis dentre as infecções causadas por nematoides. Por exemplo, o mebendazol em doses eficazes para outros parasitas, não atua sobre o Strongyloides stercoralis. Segue abaixo um resumo com as principais drogas utilizadas na estrongiloidíase:

1) Ivermectina: substância de escolha no tratamento de indivíduos imunossuprimidos. Nos casos de autoinfecção interna, em que há constipação intestinal, é importante que o paciente receba, além da terapêutica específica, um laxativo para restabelecimento do funcionamento intestinal. Contraindicada durante gestação e lactação

2) Albendazol: atua sobre as fêmeas partenogenéticas e larvas. Também age contra outros nematoides intestinais. Não deve ser administrado nas formas disseminadas.

3) Tiabendazol: recomendado nos casos de hiperinfecção. Ele atua somente sobre as fêmeas partenogenéticas, inibindo suas vias metabólicas.

4) Cambendazol: atua sobre as fêmeas partenogenéticas e larvas

 

Referências

http://www.rbac.org.br/artigos/sindrome-de-hiperinfeccao-eou-disseminacao-por-strongyloides-stercoralis-em-pacientes-imunodeprimidos/

https://www.cdc.gov/parasites/strongyloides/biology.html

Neves, D. P. Parasitologia Humana – 12ª Ed. 2011.

Rey, Luis. Bases Da Parasitologia Médica – 3ª Ed. 2011.

 

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