Ancilostomose: ciclo, sintomas, tratamento, prevenção, transmissão e muito mais sobre o Ancylostoma
Nesse texto nós vamos responder as suas principais perguntas sobre ancilostomose. Seguem abaixo algumas das perguntas que vamos responder nesse texto:
O que é ancilostomose (ou ancilostomíase)?
Qual o agente causador da ancilostomose?
Qual o agente causador do bicho geográfico (larva migrans cutânea)?
Qual é o habitat dos vermes da ancilostomose
Como é a morfologia dos agentes etiológicos da ancilostomose
Como é o ciclo da ancilostomose?
Quais são os sintomas da ancilostomose?
A ancilostomose pode causar anemia?
Por que a ancilostomose também é conhecida como amarelão?
Como é feito o diagnóstico da ancilostomose?
Como é o ovo de ancilostomídeo?
Qual é o tratamento da ancilostomose?
Como é a transmissão da ancilostomose?
Como é a prevenção da ancilostomose?
Quem é o hospedeiro definitivo na ancilostomose?
A ancilostomose pode ocorrer em cães e gatos?
Esperamos que você possa aproveitar muito esse texto que elaboramos com muito carinho para você. Agora chega de enrolação e vamos ao que interessa, rs!
O que é ancilostomose (ou ancilostomíase)?
Ancilostomose, ancilostomíase, amarelão, opilação ou doença do Jeca Tatu é a doença causada pelos parasitas intestinais Ancylostoma duodenale, Necator americanus e em alguns países do Sudeste Asiático pelo Ancylostoma ceylanicum (que tem como hospedeiros cães e gatos). A espécie Ancylostoma braziliense também tem como hospedeiros cães e gatos, mas no ser humano pode causar a larva migrans cutânea, ou bicho geográfico.
Qual o agente causador da ancilostomose?
O agente causador da ancilostomose (agente etiológico) é o Ancylostoma duodenale. A ancilostomose também pode ser causada pelo Necatur americanus, sendo conhecida como necatoríase. Em alguns países do Sudeste Asiático ela também pode ser causada pelo Ancylostoma ceylanicum, que tem como hospedeiros os cães e gatos.
Qual o agente causador do bicho geográfico (larva migrans cutânea)?
O agente causador da larva migrans cutânea é o Ancylostoma braziliense. Essa espécie de nematoide parasita cães e gatos, e penetra na pele humana, mas permanecem se movimentando entre a epiderme e a derme. Eles não conseguem completar sua evolução no homem. O quadro clínico resultante é a larva migrans cutânea, que é bastante conhecida popularmente como bicho geográfico, ou bicho das praias.
(fonte: adaptado de cdc.gov)
Qual é o habitat dos vermes da ancilostomose?
Os vermes adultos residem nas porções altas do intestino delgado, após a ampola de Vater. Nos casos de infecções maciças eles podem ser observados no íleo e no ceco. Os adultos também se deslocam de vez em quando para sugar mais sangue em outro local ou para realizarem aproximação sexual. Na maioria das vezes eles permanecem aderidos à mucosa intestinal pela cápsula bucal.
Algumas espécies habitam o intestino humano, outras o intestino de cães e gatos. Em alguns casos elas podem sobreviver por até 8 anos no intestino humano.
Como é a morfologia dos agentes etiológicos da ancilostomose?
Como na maioria das espécies, as fêmeas são maiores que os machos. Elas medem em torno de 1 cm de comprimento e têm corpo cilíndrico. Suas extremidades são mais finas. Os machos apresentam a bolsa copuladora em sua extremidade posterior (ver imagem abaixo).
(Fonte: Rey, 2010).
A morfologia das espécies causadoras da ancilostomose varia um pouco, principalmente no que diz respeito à cápsula bucal (ver imagem abaixo).
(Fonte: Rey, 2010).
Como é o ciclo da ancilostomose?
O ciclo inicia com a penetração cutânea das larvas filarioides. Esse contato geralmente ocorre na pele dos pés ou das mãos do ser humano no caso da espécie Necator americanus. As larvas de Ancylostoma duodenale também podem penetrar pela pele, mas diferente do Necator americanus, elas também podem entrar no organismo humano pela via oral.
Quando estão na pele, as larvas se movimentam continuamente e buscam a circulação linfática ou sanguínea. Ao atingem a circulação elas são levadas até o coração ou aos pulmões. Isso leva em torno de 3 a 5 dias.
Nos pulmões, as larvas de quarto estadio do parasita passam para a luz dos alvéolos pulmonares. As secreções brônquicas e os movimentos ciliares da mucosa dos brônquios, bronquíolos e traqueia faz com que as larvas subam para a laringe e faringe do hospedeiro. Essa etapa é conhecida como ciclo pulmonar.
Agora as larvas são deglutidas junto com o muco e são levadas para o intestino. No intestino as larvas completam sua maturação e se transformam em vermes adultos. Há o amadurecimento sexual dos machos e das fêmeas que já podem copular para originar os novos ovos.
Como citamos anteriormente, as larvas de Ancylostoma duodenale também podem ser ingeridas com alimentos ou com água contaminada. Nesse caso elas não passam pelo ciclo pulmonar, e completam sua evolução no tubo digestivo.
Fonte: adaptado de https://www.cdc.gov/dpdx/hookworm/index.html
Quais são os sintomas da ancilostomose?
A ancilostomose geralmente é assintomática. Quando são observados sintomas, eles geralmente estão relacionados ao estágio de desenvolvimento do parasita e ao local da infecção no hospedeiro. Os sintomas em muitos casos começam quando há penetração na pele, na forma de uma reação eritematosa localizada (coceira da terra).
Pele
A larva migrans cutânea (ancilostomose zoonótica) começa com uma pápula eritematosa que se desenvolve posteriormente na característica dermatite serpiginosa. Ela é conhecida popularmente como bicho geográfico ou bicho das praias. Sua principal característica é o desenvolvimento de túneis de 1 a 5 cm na pele. Eles ocorrem quando a larva não é capaz de penetrar nas camadas mais profundas da pele e fica nas camadas mais superficiais. Esse tipo de infecção normalmente afeta as mãos e os pés, que são os principais locais de contato com o solo (areia da praia).
Pulmões
Durante o estágio pulmonar, a infecção pode se expressar na forma de tosse, espirro, bronquite, hemoptise (expectoração de sangue) e pneumonia eosinofílica (síndrome de Loeffler). Esses sintomas geralmente são autolimitados e não necessitam de intervenção clínica.
Infecção perioral
Os sintomas geralmente são náuseas, vômitos, irritação faríngea, tosse e dispneia (síndrome de Wakana).
Intestino delgado
Assim que os vermes atingem o intestino delgado, os sintomas abdominais não específicos podem ocorrer, como dor abdominal e distensão, diarreia, sangue oculto nas fezes e melena ocasional.
Anemia
A principal característica da ancilostomose é a anemia por deficiência de ferro (anemia ferropriva) secundária à deficiência de ferro. Isso ocorre pelo consumo direto de ferro pelo parasita ou pela perda de sangue pela ligação do parasita ao intestino.
Adicionalmente, a hipoalbunemia pode levar à formação de edema e anasarca generalizada.
Ocasionalmente, alguns pacientes podem sentir vontade de comer terra (geofagia)
A ancilostomose pode causar anemia?
Sim, a anemia é o quadro clínico mais típico da ancilostomose, trazendo consigo todas as consequências (ver sintomas da ancilostomose).
Por que a ancilostomose também é conhecida como amarelão?
O quadro clínico mais característico da ancilostomose é a anemia e suas consequências. Alguns dos sinais e sintomas comuns incluem palidez ou cor amarelada na pele, conjuntivas e mucosas descoradas, cansaço frequente, desânimo e fraqueza.
Essa anemia crônica pode trazer mudanças na personalidade que, juntamente com a desnutrição, compõem o tipo clássico do “Jeca Tatu”, um camponês desanimado e indolente, descrito por Monteiro Lobato.
Como é feito o diagnóstico da ancilostomose?
O diagnóstico parasitológico da ancilostomose é feito pela busca dos ovos em amostras de fezes. Os ovos são bem característicos e costumam aparecer em grande número nas fezes dos pacientes. O exame parasitológico de fezes pode ser feito com um simples esfregaço em uma lâmina com solução fisiológica. Nos casos em que há infecções mais leves, o recomendado é que sejam utilizadas técnicas de enriquecimento. Um dos métodos indicados é o de centrífugo-flutuação no sulfato de zinco.
O método de Stoll também pode ser interessante, por fornecer uma estimativa da carga parasitária (número de ovos/grama de fezes).
(fonte: adaptado de cdc.gov)
Como é o ovo de ancilostomídeo?
As fêmeas de Ancylostoma duodenale põe 20.000 a 30.000 ovos/dia. Já as fêmeas de Necator americanus põe aproximadamente 9.000 ovos/dia. Os ovos das diferentes espécies são muito parecidos. Eles são ovoides, ou elípticos, de casca fina e transparente. E entre a casca e a célula-ovo já sempre um espaço claro. A larva já pode estar completamente formada depois de 18 horas. Já a eclosão pode ocorrer no ambiente 2 a 3 dias depois.
(Fonte: adaptado de cdc.gov)
Qual é o tratamento da ancilostomose?
Os anti-helmínticos mais utilizados na prática clínica são:
1. Mebendazol (100 mg v.o., 2x/dia – 3 dias): esse medicamento é efetivo contra Necator americanus, Ancylostoma duodenale e ceylanicum.
2. Albendazol (400 mg v.o., 1x/dia, 3 dias): não deve ser utilizado durante a gravidez.
3. Pirantel (10 mg/kg, v.o., 3 dias; ou 20 mg/kg, dose única): igualmente eficiente contra ancilostomídeos.
Tratamento Antianêmico
O tratamento básico consiste na administração de ferro e de nutrição adequada, particularmente rica em proteínas e vitaminas. A resposta à administração de sulfato ferroso costuma ser rápida (200 mg, v.o., 3x/dia, 3 meses).
Como é a transmissão da ancilostomose?
A transmissão da ancilostomose ocorre quando há contato da pele com fezes humanas contendo ovos larvados de ancilostomatídeos. Quando há esse contato, as larvas penetram ativamente na pele, ou podem ser ingeridas.
É importante salientarmos que o comportamento humano é decisivo para a existência dessa parasitose. O homem é o único hospedeiro, então é a única fonte de infecção. Quando pessoas infectadas defecam no chão, podem ser eliminados mais de 10.000 ovos por grama de fezes. Tudo isso aliado às condições precárias de moradia e de higiene, fazem com que a população local tenha grandes chances de se contaminar.
As crianças constituem um dos grupos mais vulneráveis, pois têm o hábito de andar descalços e de sentarem-se e brincar no chão. Além de muitas vezes não higienizarem adequadamente as mãos, levando-as constantemente à boca.
Como é a prevenção da ancilostomose?
– Uso de calçados: Utilizar calçados constantemente é o meio mais efetivo de controle da ancilostomose
– Tratamento com anti-helmínticos: mebendazol, albendazol, pirantel etc.
– Tratamento com antianêmicos: utilizado para recompor as reservas fisiológicas de ferro no organismo
– Destino adequado das excretas humanas: construção e uso de latrinas ou instalações sanitários adequadas. Além disso a educação sanitária é imprescindível.
– Combate às larvas no solo: diversas substâncias podem interferir na biologia das larvas, como capim-limão e capim-cidreira.
Quem é o hospedeiro definitivo na ancilostomose?
Não há hospedeiro intermediário na ancilostomose humana. O homem é o único hospedeiro na maioria das espécies que infectam o ser humano. Os animais também podem ser acometidos por essa parasitose, então abaixo vamos apresentar as principais espécies de ancilostomatídeos e seus respectivos hospedeiros.
1. Necator americanus: praticamente exclusivo do homem (e alguns primatas);
2. Ancylostoma duodenale: parasita habitual do homem
3. Ancylostoma caninum: infecta cães e gatos, pode invadir a pele humana, produzindo dermatites (larva migrans cutânea).
4. Ancylstoma braziliense: próprio de cães e gatos domésticos ou silvestres
5. Ancylostoma ceylanicum: parasita cães e gatos. Também pode infectar com frequência o homem (Ásia, Pacífico, Suriname).
A ancilostomose pode ocorrer em cães e gatos?
Sim, a ancilostomose também pode ocorrer em cães e gatos. Aliás, algumas espécies de ancilostomatídeos parasitam preferencialmente, ou exclusivamente, cães e gatos. Nesses casos, algumas espécies podem causar a larva migrans cutânea, ou bicho geográfico, no ser humano. Esse é o caso da Ancylostoma braziliensis.
Referências
https://www.cdc.gov/dpdx/hookworm/index.html
https://www.cdc.gov/parasites/zoonotichookworm/biology.html
Neves, D. P. Parasitologia Humana – 12ª Ed. 2011.
Rey, Luis. Bases Da Parasitologia Médica – 3ª Ed. 2011.
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