Fostafase ácida: descubra como interpretar esse exame de sangue

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Neste texto, iremos explorar as funções e os significados dos exames da atividade da fosfatase ácida. Descubra como interpretar os resultados altos e baixos desse exame!

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O que é Fosfatase Ácida?

A Fosfatase Ácida (FA) é uma enzima que faz parte do grupo das fosfatases e pode ser encontrada no plasma sanguíneo. A FA recebe este nome por conta de seu pH ótimo, o qual encontra-se na faixa de 4,5 a 7. Sua função é a catálise de ésteres de ácido fosfórico, produzindo um álcool e fosfato inorgânico no interior celular. Sua ocorrência é sistêmica, embora a maior expressão seja observada na próstata. Em homens adultos, cerca de metade da FA presente no organismo encontra-se na próstata, e, a expressão residual é encontrada principalmente no metabolismo hepático e células do sangue, como observado por exemplo após a desintegração de plaquetas e eritrócitos. Em mulheres, no entanto, sua principal expressão no organismo é no fígado, hemácias e plaquetas.
Sua função nos tecidos é associada ao metabolismo celular, participando do equilíbrio entre fosforilação e desfosforilação de proteínas intracelulares ao suprir estoques de fosfato obtido, por exemplo, na dieta ou então, das próprias proteínas da célula. A partir desta relação, muito importante no controle de diversos mecanismos inerentes ao metabolismo do organismo, em condições clínicas utiliza-se a FA como marcador para algumas patologias.

 

Qual a diferença entre fosfatase ácida e fosfatase alcalina?

Antes de comentarmos a respeito da utilização clínica da FA como marcador, devemos comentar um pouco mais a respeito de outra fosfatase, a fosfatase alcalina. A fosfatase alcalina é uma enzima que também catalisa a quebra da ligação entre o fosfato e outras moléculas, entretanto, também mostra suas particularidades. Diferentemente da Fosfatase Ácida, o pH ótimo de atividade da fosfatase alcalina está em torno de 9. Outra diferença é a necessidade da fosfatase alcalina de íons divalentes como cofatores (magnésio, cobalto ou manganês) para sua atividade. O mecanismo de ação de ambas as enzimas também é diferente. Não existe a liberação de grupo álcool intermediário. A importância clínica da fosfatase alcalina é extensa, mas podemos citar sua aplicação no diagnóstico das doenças do metabolismo hepático, como obstrução dos ductos pancreáticos ou em casos de hepatite. A discussão a respeito da fosfatase alcalina pode ser encontrada em outro texto clique aqui para ler.

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A Fosfatase Ácida como marcador de adenocarcinoma prostático

A FA total se encontra aumentada em casos de adenocarcinoma prostático. Portanto, seu monitoramento é de grande valor para o diagnóstico e tratamento desta condição, em especial quando apresenta metástase. Observa-se, desta maneira, um aumento significativo da FA no sangue particularmente quando há infiltração de pseudo-cápsula com metástases difundidas, principalmente no tecido ósseo. Ainda, observa-se o aumento acentuado da fração prostática da fosfatase ácida no soro sanguíneo.
Em casos de aumentos muito sutis das concentrações de FA total, é necessária a identificação do fator condicionante a esta elevação. Desta maneira, diferenciar as frações da FA sérica a partir de seus diferentes pesos moleculares pode indicar fatores preditivos a complicações no metabolismo prostático. Sua diferenciação se dá principalmente pela técnica de eletroforese. No diagnóstico do adenocarcinoma prostático, a diferenciação das frações aumenta a especificidade do diagnóstico em relação à dosagem total de FA no soro sanguíneo, porém, para o fechamento do diagnóstico, ainda se faz necessário a combinação com outros exames a serem descritos adiante.

 

Valores-referência da fosfatase ácida

Assume-se valores de referência para a FA prostática, em adultos, valores de 0,5 a 1,9 U/L. Além do adenocarcinoma prostático, outras doenças também podem ser caracterizadas por aumentos da FA, como a anemia hemolítica e anemia megaloblástica, assim como doença de Gaucher (uma doença hereditária causada pelo acúmulo tóxico do glicocerebrosídeo, um tipo de gordura que se acumula no interior celular causando inchaço de órgãos, além de anemia e deterioração dos ossos, motivos os quais estariam diretamente associados à maior concentração sérica da FA). Desta maneira, a combinação com a dosagem do antígeno prostático específico (PSA) aumenta o poder marcador da FA no diagnóstico de adenocarcinoma prostático. Clicando aqui, pode-se encontrar uma discussão a respeito do exame de PSA. Ainda, outras condições também podem ser caracterizadas pelo aumento da FA, como a hipertrofia benigna da próstata, a manipulação recente da próstata (por exemplo no exame do toque retal) e metástases ósseas de câncer não prostático.
Além disso, alguns medicamentos podem interferir nas concentrações séricas de FA aumentando-a (como o clofibrato – utilizado no tratamento de hiperlipidemias – e os andrógenos, especialmente em mulheres) ou diminuindo-a (anticoagulantes fluoretos, fosfatos, oxalatos ou ainda, o álcool). Assim, pode-se esperar de algumas recomendações para a dosagem da FA laboratorialmente.

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Legenda: O adenocarcinoma prostático é caracterizado por discreta diferenciação celular. Pode-se encontrar em diferentes arranjos, como sólido (não formando ácinos) ou ainda, com pequena formação de ácinos. O adenocarcinoma infiltra-se no parênquima da próstata, podendo também observar-se glândulas remanescentes e alguns feixes de músculo liso constituinte (Fonte: http://anatpat.unicamp.br/lamneo17.html).

 

Condições de determinação da fosfatase ácida

A única recomendação especial aos pacientes antes da coleta de sangue é evitar o consumo de bebidas alcóolicas. É importante que o soro ou plasma heparinizado não esteja lipêmico e isento de hemólise. Deve-se acidificar a amostra (ao redor de pH 5,4), garantindo a viabilidade desta por até dois dias a 2 a 8 °C, ou então, por até uma semana a -20 °C.
Existem pelo menos dois métodos de dosar a Fosfatase Ácida. O primeiro método leva em consideração uma metodologia cinética colorimétrica da fração total em tempo fixo (método de Roy modificado). Neste caso, baseia-se na atividade enzimática da FA ao hidrolisar o substrato timolftaleína monofosfato, liberando timolftaleína e fosfato inorgânico. Na adição de um inibidor enzimático específico (álcali), favorece-se a formação da timolftaleína na forma azul, e, a absorbância da timolftaleína pode ser mensurada a partir de leitura espectrofotométrica. Embora não exista uma diferenciação direta das atividades das frações de FA, considera-se neste método os resultados correspondentes à atividade da fração prostática, uma vez que o substrato utilizado tem afinidade significativamente maior à fração prostática em detrimento das outras frações.
O segundo método a ser descrito leva em consideração a diferenciação das atividades das frações de FA. O método baseia-se na catálise do α-naftilfosfato em meio ácido. O produto desta reação, o α-naftol, reage com sal de diazônio, formando um cromógeno. Desta maneira, determina-se a atividade catalítica da FA por um método indireto, ao medir-se a velocidade de formação deste cromógeno à 405 nm por leitura espectrofotométrica. Em uma segunda amostra, utiliza-se o tartarato como inibidor enzimático específico para a fração prostática. Desta forma, calcula-se a atividade da FA prostática pela diferença entre os valores obtidos pela atividade total subtraída dos valores obtidos na inibição pelo tartarato (a qual corresponde à atividade não-prostática).
Atualmente, alguns métodos de imunoensaio também recebem destaque, principalmente promovido pela capacidade de automação que oferecem. Metodologias que utilizam anticorpos monoclonais, que detectam a Fosfatase Ácida no soro, são conjugados a anticorpos secundários, que por sua vez promovem uma reação enzimática colorimétrica. Neste caso, podemos citar os anticorpos associados à peroxidase, pois sua concentração está diretamente associada à concentração de FA na amostra, podendo ser aferida por espectrofotometria.

 

Conclusão

A Fosfatase Ácida é utilizada como marcador para diversas doenças, principalmente para o adenocarninoma prostático. O resultado deste exame, quando combinado a outros, proporciona evidências suficientes para o diagnóstico. Mais da metade da origem da FA sérica é prostática em homens, apresentando-se elevadas no adenocarcinoma prostático. Embora não seja um marcador específico, a utilização deste exame possui relevância clínica, inclusive no diagnóstico de outras doenças, como anemias e câncer não prostático com metástase.

 

Referências

http://www.goldanalisa.com.br/arquivos/%7BD24E41CD-601C-4721-BDA7-E5B1CB3512B3%7D_Enzimas_no_Laboratorio_Clinico[1].pdf
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3676848/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3762301/
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422003000600019

 

Autor

 
Leonardo André da Costa Marques – Biomédico, Mestre em Farmacologia

 

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