Hemoglobina Glicada: o que é, valores normais e para que serve esse exame?

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Neste texto vamos explicar tudo o que você precisa saber sobre o exame da hemoglobina glicada.

Vamos explicar o que é hemoglobina glicada, para que serve esse exame e o que significa um aumento ou nos valores de referência da hemoglobina glicada.

Boa leitura.

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Introdução sobre hemoglobina glicada

A aplicação mais importante do exame da hemoglobina pode ser associada ao diagnóstico do di/-*+-*-/betes. Para explorarmos melhor este assunto, vamos imaginar a seguinte situação: um paciente homem, com cerca de 50 anos, sedentário e com hábitos alimentares não muito regrados queixou-se ao médico de sede constante e frequência urinária maior e fez, entre alguns exames, a glicemia de jejum, a qual não ultrapassou 100 mg/dL. De acordo com estes achados clínicos, poderia suspeitar-se de diabetes mellitus tipo 2.

Você, como biomédico encarregado do setor de patologia do laboratório, poderia outro exame aos profissionais de saúde envolvidos para contribuir ao diagnóstico? Vamos explorar neste texto a Hemoglobina glicada e como ela é utilizada no diagnóstico clínico.

 

O que é Hemoglobina Glicada (HG)?

A hemoglobina é uma proteína encontrada dentro das hemácias e é responsável pelo transporte do oxigênio no sangue. Um percentual da hemoglobina presente nos eritrócitos (as hemácias) interage irreversivelmente com a glicose, formando a hemoglobina glicada (a hemoglobina A1c ou simplesmente A1c). Desta forma, quanto maior a glicemia, maior a concentração de hemoglobina glicada formada. Ainda, considerando o tempo de vida útil das hemácias em torno de 90 dias, o resultado deste exame é muito útil na avaliação da glicemia de longo prazo, uma vez que a hemoglobina glicada só deixa de existir após a degradação das hemácias.

Hemoglobina Glicada proteína molécula da hemolgobina glicada A1C

Legenda: A formação da HbA1c é utilizada como avaliação continuada da glicemia, influenciada pelas concentrações de glicose no sangue de até 3 meses antes do teste. Fonte: https://www.diabetes.org.br/publico/notas-e-informacoes/1244-limitacoes-na-interpretacao-da-hemoglobina-glicada-hba1c

 

Para que serve o exame de Hemoglobina Glicada?

A principal utilização do exame de Hemoglobina Glicada é no diagnóstico do diabetes mellitus (DM). A hiperglicemia persistente, ou seja, as altas concentrações de glicose no sangue por um longo período, é tóxica ao organismo e promove danos principalmente associados à glicação de proteínas (alterando seu funcionamento), hiperosmolalidade do sangue (induzindo a desidratação celular) e aumento da concentração de sorbitol no interior das células (um metabólito tóxico ao ambiente celular). Estes efeitos resultam em danos muitas vezes irreparáveis aos olhos, rins, nervos, vasculatura e ao funcionamento da cascata da coagulação.
Desta maneira, o exame de Hemoglobina Glicada pode ser utilizado tanto para o controle da glicemia de rotina, quanto para o rastreamento, auxiliando no diagnóstico do Diabetes Mellitus, sendo considerado um método indireto de determinação da glicemia. Uma das maneiras de interpretar seus resultados é em escala percentual. Por exemplo, o resultado de 5,5% significa que 5,5% da hemoglobina presente no sangue apresenta-se como hemoglobina glicada.

 

Valores Referência da hemoglobina glicada

A Sociedade Brasileira do Diabetes (SBD) adotou critérios para o diagnóstico do Diabetes Mellitus de acordo com os resultados do exame de hemoglobina glicada. O percentual de A1c associado à normoglicemia é de valores inferiores a 5,7%. Pacientes em condições pré-diabéticas, ou com risco elevado para o DM mostram percentuais entre 5,7% a menores do que 6,5% de A1c; os pacientes com diabetes estabelecido mostram percentual de 6,5% ou superiores. No caso dos pacientes que controlam a glicemia com terapias medicamentosas, estes não devem apresentar concentrações de A1c superiores a 7%, sendo uma sugestão a alterações na terapia medicamentosa do paciente.
Algumas populações mostram concentrações-alvo diferentes. No caso de crianças e adolescentes, para o crescimento e desenvolvimento adequado a meta de HG varia entre 7,5% a 8,5 de 0 a 6 anos, valores menores do que 8% para crianças de 6 a 12 anos e menores do que 7,5% a adolescentes de 13 a 19 anos. No caso dos diabéticos idosos, a meta costuma ser individualizada, dado que a interação dos riscos entre o controle glicêmico medicamentoso (principalmente a hipoglicemia) e outras terapias medicamentosas possivelmente prevalentes devem ser contabilizadas. No entanto, em casos em que os riscos do controle glicêmico são maiores do que os potenciais benefícios, assumem-se valores ideais inferiores a 8%.
Por último, gestantes com diabetes apresentam maior risco de aborto ou má-formação congênita fetal, e a intensidade deste risco está diretamente associada à qualidade do controle metabólico, sobretudo antes da gravidez e nos primeiros três meses de gestação. Desta forma, assume-se que quanto menor a concentração de HG, o melhor é para a paciente, bem como para o feto em formação. Ressalta-se que durante a gravidez o exame de HG não é a melhor ferramenta para a avaliação da conduta terapêutica, justamente pelo longo intervalo necessário para observar-se os reflexos nos níveis de A1C. Desta forma, durante a gravidez assume-se que a análise dos parâmetros como glicemia de jejum e pós-prandial são muito mais relevantes do que o exame de HG.

 

Como a Hemoglobina Glicada se relaciona com a glicemia em jejum?

Como discutido anteriormente, os resultados do exame de Hemoglobina Glicada são muito utilizados no diagnóstico do Diabetes Mellitus. No entanto, outros métodos que avaliam as concentrações de glicose no sangue, como glicemia de jejum ou albumina glicada, também devem ser considerados. Podemos observar na figura 2 um gráfico correlacionando as concentrações de Hemoglobina Glicada com a concentração de glicose de acordo com o estudo organizado pela ADAG. As principais entidades médicas associadas ao estudo e controle do DM aconselham a expressão dos resultados dos testes de HG em glicemia média estimada, embora os resultados em porcentagem ainda sejam utilizados.

hemoglobina glicada correlação entre hemoglobina glicada A1C glicemia

Legenda: Calcula-se a relação entre A1c e a glicemia média estimada a partir da relação: 28,7 x A1c – 46,7 = glicose média estimada (expressa em mg/dL) (Fonte: Adaptado de https://www.scielo.br/pdf/jbpml/v45n1/07.pdf)

 

Hemoglobina Glicada no diagnóstico do Diabetes Mellitus

Mesmo que as glicemias mais recentes possuam maior impacto sobre a concentração de Hemoglobina Glicada, o exame de HG sofre menor variabilidade e também independe do estado de jejum do paciente. É importante ressaltar que o diagnóstico de DM é baseado no conjunto dos resultados dos exames laboratoriais e achados clínicos. Outros exames normalmente solicitados, como exame de glicemia em jejum e de glicemia 2 horas após teste oral de tolerância à glicose também auxiliam o diagnóstico. Na ausência de sintomas inequívocos de hiperglicemia, como alta frequência urinária – poliúria; muita sede – polidipsia; muita fome – polifagia; fadiga; perda de peso e em casos mais graves de formigamentos, a validação dos resultados dos exames se dá pela sua repetição.

 

Preparações e métodos empregados no exame de Hemoglobina Glicada

Para a realização do exame de HG, o paciente não precisa estar em jejum, embora aconselhe-se a coleta do sangue após pelo menos duas horas após a ingestão de alimentos (a hipertrigliceridemia afeta negativamente a acurácia dos resultados). A coleta do sangue se dá na presença de anticoagulante (EDTA, principalmente) e o armazenamento das amostras (sangue total) em ambientes refrigerados (2 a 8°C) viabiliza as amostras por até uma semana.
Atualmente, para a quantificação da HG, utilizam-se métodos que consideram diferenças de carga iônica (Cromatografia Líquida de Alta Eficiência – HPLC – de troca iônica), diferenças estruturais (HPLC utilizando derivados do ácido borônico; imunoensaio turbidimétrico) ou então, produtos de reação química, como o método colorimétrico baseado na formação do 5-hidroximetilfurfural. A certificação NGSP (National Glycohemoglobin Standardization Program) permite aos laboratórios rastrear a padronização laboratorial mais eficaz. Os métodos certificados apresentam resultados equivalentes aos obtidos pelo método empregado (HPLC) no estudo feito pelo DCCT (Diabetes Control and Complications Trial). O emprego das técnicas, no entanto, pode variar conforme o laboratório, relação custo/efetividade e ainda, prevalência de hemoglobinopatias e da insuficiência renal na população atendida pelo laboratório.

 

Interferências e outras correlações importantes

Algumas variações ou condições patológicas interferem na avaliação laboratorial da Hemoglobina Glicada. A anemia hemolítica diminui as concentrações de A1c pelo encurtamento da vida útil das hemácias; a anemia por carência de ferro ou vitamina B12 aumenta os valores de A1c. Ainda, a uremia aumenta os valores de A1c, dado que altas concentração de ureia no sangue induzem a formação da hemoglobina carbamilada.
A utilização de determinados produtos farmacêuticos, como complexos vitamínicos, principalmente vitaminas C e E pode diminuir as concentrações de A1c por diminuir a formação de HG, e ainda, outras condições patológicas como o alcoolismo crônico e a utilização de opiáceos podem aumentar as concentrações de A1c observadas. Desta maneira, o quadro do paciente deve estar claro tanto para a classe médica quanto para o grupo da análise laboratorial a fim de que se empregue a melhor técnica de acordo com o caso do paciente.

hemoglobina glicada esfregaço sangue periférico esquizócitos

Legenda: Algumas patologias envolvendo os eritrócitos, como a anemia hemolítica, interferem diretamente nos resultados dos exames de Hemoglobina Glicada. No caso, vemos um esfregaço de sangue periférico de paciente com anemia hemolítica, caracterizado pelos esquizócitos e queratócitos. A menor vida útil dos eritrócitos diminui falsamente os resultados obtidos nos exames de HG. Desta maneira, deve-se empregar outros métodos complementando o diagnóstico destes pacientes em específico (Fonte: FALCÃO, Roberto Passetto; ZAGO, Marco Antonio; PASQUINI, Ricardo. Tratado de Hematologia. São Paulo: Atheneu, 2013. <Capítulo 84>)

 

Conclusão

Durante o texto, foram abordados os conceitos, a principal aplicação e algumas limitações do exame de Hemoglobina Glicada. Ao considerarmos a situação-exemplo apresentada no início do texto, podemos concluir que para o prosseguimento do diagnóstico de Diabetes Mellitus neste paciente, seria indicada a combinação do resultado com outros exames assim como a pesquisa por outros sintomas. De toda forma, poderíamos inferir que com resultados do exame de HG mostrando valores acima de 5,5%, já seria possível indicar estados pré-diabéticos, embora a combinação de outros resultados ainda se faça necessária.

 

Referências:

https://hilab.com.br/blog/hemoglobina-glicada-para-que-serve/
https://www.labnetwork.com.br/noticias/hemoglobina-glicada-aspectos-clinicos-e-laboratoriais/
https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/DIRETRIZES-COMPLETA-2019-2020.pdf
https://www.scielo.br/pdf/jbpml/v45n1/07.pdf

 

Autor

Leonardo André da Costa Marques – Biomédico, Mestre em Farmacologia

 

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