Adenosina Deaminase (ADA) e tuberculose: qual sua relação e como é feito exame

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Adenosina Deaminase TUBERCULOSE

Este artigo é sobre a Adenosina Deaminase (ADA) no diagnóstico da tuberculose. Neste texto iremos responder as seguintes questões:

1. O que é adenosina deaminase?

2. Onde a enzima adenosina deaminase é produzida?

3. Qual a relação entre adenosina deaminase e tuberculose?

4. Como é feito o exame de ADA para tuberculose?

5. Quais os valores de referência da adenosina deaminase?

6. Adenosina deaminase alta significa o que?

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A tuberculose é uma doença infecciosa, disseminada em maior grau através dos produtos expelidos pela tosse. Ao tossir, o indivíduo forma uma nuvem parecida com um spray aerossol cheia de bactérias, nesse caso o Mycobacterium tuberculosis. Gotículas de saliva, ricas em bacilos podem deslocar-se por vários metros ao tossir e disseminar a doença mais facilmente.

Adenosina Deaminase (ADA) e tuberculose

Disponível em: http://profjabiorritmo.blogspot.com/2014/08/seu-espirro-vai-longe.html. Acesso em 02/07/2020.

 

Esta é uma doença apresenta grande prevalência de acometimento pulmonar, porém pode atingir diversos órgãos. Ela surgiu há cerca de 70.000 anos, na África e até hoje mata milhões de pessoas ao redor do mundo. Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil apesar de existirem políticas específicas para controle e tratamento da doença, 200 novos casos são registados por dia. Quando não tratada sua taxa de mortalidade, sequelas e capacidade de transmissão é extremamente elevada. Por isso, um diagnóstico precoce da doença se faz necessário. A seguir, vamos entender o papel da Adenosina deaminase (ADA), no diagnóstico da tuberculose.

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O que é Adenosina Deaminase e onde é produzida?

A Adenosina deaminase (ADA), ou Adenosina aminohidrolase, é uma enzima intracelular, um marcador biológico capaz de fazer a conversão de forma irreversível da adenosina em inosina. Esta enzima é encontrada no citosol e nas superfícies celulares. Apesar de ser produzida em todas as células, sua maior produção se dá nas células de origem hematopoiética, principalmente as originadas pela linfopoiese. Quimicamente, possuem uma estrutura bem semelhante, que difere apenas quanto à presença de um grupamento amina.

estrutura quimica da adenosina Adenosina Deaminase (ADA) no diagnóstico da tuberculose estrutura quimica da inosina Adenosina Deaminase (ADA) no diagnóstico da tuberculose

Estrutura química da Adenosina e da Inosina. Disponível em: https://laes-haes.com.br/noticias/kit-para-dosagem-de-ada-adenosina-deaminase/. Acesso em 03/07/2020.

Após sua descoberta, durante vários anos, houve muita dificuldade em estabelecer seu papel no organismo humano. Em 2020 sua ação nos diversos sistemas já é bem estabelecida. Estudos apontam que a inosina possui ação no sistema cardiovascular, atuando no aumento da força e tonicidade do coração, o que gera uma maior capacidade funcional do órgão. No sistema nervoso central (SNC), uma de suas ações mais observada é a capacidade de atuar como promotor de crescimento nos axônios, isto lhe torna uma fonte promissora para novos estudos visando o tratamento e minimização de danos em pacientes que sofrem diversos tipos de lesões cerebrais. A atividade anti-inflamatória da inosina também é bem estudada, estudos apontam para sua ação na regulação de mediadores inflamatórios, diminuição da produção de neutrófilos e citocinas pró-inflamatórias. Contudo, o papel que parece ter maior destaque é a sua atuação na resposta imunológica, sendo produzida e liberada por duas células responsáveis pelo combate e regulação da resposta imune inata: os linfócitos e os macrófagos.

Atuação da Adenosina Deaminase na resposta imunológica

Na corrida contra agentes invasores, os linfócitos e macrófagos são as primeiras células do sistema imunológico a entrarem em ação. Linfócitos possuem uma capacidade de “lembrar” se tiveram ou não um contato prévio com aquele agente invasor, ou seja, participam da defesa do organismo, pois possuem uma memória imunológica que os faz capazes de identificar antígenos específicos. Os macrófagos são células originárias da linhagem mieloide, capazes de realizar a fagocitose de células estranhas como vírus e bactérias. Possuem uma larga distribuição pelo organismo humano, tendo sua denominação modificada conforme a sua localização. No sangue recebem o nome de monócitos, no sistema nervoso de células microgliais, no fígado células de Kupffer, exercendo uma função específica e adaptada em cada órgão. Essas células estão envolvidas no combate de diversas patologias, inclusive a tuberculose. A ativação dos macrófagos alveolares, presentes no pulmão é uma das primeiras barreiras de defesa quando a bactéria responsável pela tuberculose adentra os pulmões. Apesar de ser muito eficiente no combate de diversos microorganismos menos virulentos, ao entrar no corpo humano, o Mycobacterium tuberculosis, é capaz de estabelecer uma infecção crônica, atingindo o pulmão com maior frequência. A efetividade dos macrófagos alveolares parece ser pouco eficaz. Quanto ao controle da multiplicação dos bacilos responsáveis por causar a tuberculose, diversas células do sistema imune necessitam cooperar para que o controle da infecção ocorra.

resposta imunologica Adenosina Deaminase (ADA) no diagnóstico da tuberculose

Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/viver-bem/saude-e-bem-estar/hospital-cura-paciente-com-bacteria-ultrarresistente/. Acesso em 01/07/2020.

Qual a relação da ADA com a tuberculose?

Desde o ano de 1978, a ADA, tem se mostrado um marcador biológico muito eficiente no diagnóstico da tuberculose (TB), principalmente a pleural. A tuberculose pleural, pode ser tanto primária quanto fruto de reativação da doença. Geralmente, a tuberculose pleural acomete mais pacientes jovens, porém a reativação da doença tende a ocorrer nos organismos mais imunocomprometidos, como o dos idosos. A tuberculose pleural, apresenta-se como uma doença aguda, onde os pacientes têm febre, dor torácica e tosse não produtiva. Mais de dois terços dos pacientes apresentam os sintomas anteriormente descritos, em menos de um mês. O aparecimento de um derrame pleural geralmente ocorre lentamente, e sem tratamento os pacientes evoluirão para uma tuberculose ativa dentro de 5 anos. A adenosina deaminase possui duas isoformas: a ADA-1 que é encontrada em todas as células, mais particularmente em monócitos e linfócitos e a ADA-2 que é característica apenas dos monócitos. A ADA-2, é a isoforma presente predominantemente nos derrames pleurais correlacionados com a tuberculose. Por este motivo, esta enzima e suas isoformas possuem um papel primordial no diagnóstico laboratorial da doença.

RX Adenosina Deaminase (ADA) no diagnóstico da tuberculose

RX de tórax, apresentando um pulmão acometido pela tuberculose – Disponível em: http://www.rb.org.br/detalhe_artigo.asp?id=2652&idioma=Portugues. Acesso em 03/07/2020.

 

torax pulmao derrame pleural Adenosina Deaminase (ADA) no diagnóstico da tuberculose

RX de tórax, apresentando um pulmão com derrame pleural. Disponível em: https://medicoresponde.com.br/o-que-e-derrame-pleural-e-quais-os-sintomas/. Acesso em: 03/07/2020.

Como é realizado o exame de ADA para o diagnóstico da tuberculose?

A dosagem desta enzima, pode ser realizada em diferentes matrizes biológicas, líquido pleural, líquor, líquido pericárdico e líquido ascítico e soro. O exame é realizado através de um teste fundamentalmente colorimétrico, manual, com base na técnica de Giusti, recomendada pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). É uma técnica relativamente barata e de fácil execução, necessitando apenas dos reagentes e de um espectrofotômetro. Existem diversas empresas que fazem a fabricação dos reagentes, e a execução do teste pode variar conforme a marca. Basicamente, o teste consiste na determinação através da leitura em espectrofotômetro do índice de amônia liberada em virtude da ação da adenosina deaminase.

Quais são os valores de referência da ADA e o que eles podem significar?

Os valores de referência variam conforme a matriz biológica em que foram dosados e conforme o País. Infelizmente, ainda não existe uma padronização destes valores. No Brasil, a SBPT sugere o valor de 40 U/L, para dosagens em líquido pleural, ascítico ou pericárdico. Dados da literatura revelam um excelente valor preditivo negativo (VPN), para diagnóstico de TB pleural, quando os valores da ADA se mostram abaixo de 40 U/L e um excelente valor preditivo positivo (VPP), para dosagem acima de 70 U/L. VPN, corresponde à probabilidade de um indivíduo que obteve resultados dentro da normalidade, ou negativos para alguma avaliação, não estar realmente acometido pela doença. Em contrapartida, o VPP diz respeito à probabilidade do indivíduo avaliado que apresentou valores acima dos valores de referência, ou positivos, realmente apresentar a doença. Níveis elevados já foram descritos nos diferentes líquidos como o de ascite, caracterizando tuberculoses extrapulmonares. No líquido pleural, valores acima de 60 U/L, geralmente estão ligados a um quadro de tuberculose pleural. Apesar de apresentar sensibilidade e especificidade variáveis de acordo com cada líquido analisado, resultados falso-positivos podem ser observados em pacientes portadores do vírus HIV, infecções bacterianas não relacionadas à tuberculose e neoplasias. O diagnóstico da doença deve ser realizado utilizando-se diversas metodologias e não somente a dosagem da ADA. Vários exames estão disponíveis para este fim, RX e tomografias, exames de laboratoriais como o teste tuberculínico ou PPD que consiste em inocular intradermicamente no antebraço do paciente, através de uma injeção, um derivado proteico purificado, após 48-72h observa-se o tamanho do inchaço endurecido, análise de biomarcadores como o  IFN-γ (gama), ensaios de liberação de interferon-gama (IGRA), baciloscopia e cultura, testes moleculares, torascoscopia, biópsia pleural dentre outros.

Referências

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Autora

Bruna Kuhn de Freitas Silva – Biomédica Especialista em Toxicologia Forense, Mestranda em Biotecnologia.

 

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