Larva migrans visceral (toxocaríase): conheça os sintomas, tratamento, transmissão e prevenção

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Larva migrans visceral toxocaríase

Neste artigo iremos falar sobre a Larva migrans visceral (toxocaríase). Iremos responder as seguintes questões:

1. O que é Larva migrans visceral? 

2. Qual o agente causador da Larva migrans visceral? 

3. Qual a diferença entre Larva migrans visceral e larva migrans cutânea? 

4. Qual o tratamento da Larva migrans visceral? 

5. Qual o ciclo do Toxocara canis?

6. Qual a morfologia do Toxocara canis?

7. Quais os sintomas da toxocaríase em humanos?

8. Como é feito o diagnóstico da Larva migrans visceral?

9. Como é a transmissão da Larva migrans visceral?

10. Como é a prevenção da Larva migrans visceral?

Este texto faz parte da nossa série de artigos sobre parasitologia. Boa leitura!

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O que é Larva migrans visceral (toxocaríase)?

Larva migrans visceral, ou toxocaríase, é uma antropozoonose que afeta o mundo todo causada por nematódeos das espécies Toxocara canis e Toxocara cati, que tem como hospedeiros definitivos, cães e gatos domésticos. A infecção no hospedeiro humano ocorre de forma acidental através da ingestão de ovos ou larvas do parasita. Dentro do organismo as larvas penetram nas paredes do intestino, se disseminam por via hematogênica e alcançam diversos órgãos gerando uma resposta inflamatória e causando diversos danos teciduais.  As manifestações clínicas associadas à toxocaríase são observadas através de duas principais síndromes:

Síndrome da larva migrans ocular ou toxocaríase ocular em que o parasita migra pelo sistema sanguíneo e penetra no globo ocular, na maioria das vezes de forma unilateral. É mais comum em crianças (> 10 anos) e adultos jovens, e está associada a uma menor quantidade de larvas no organismo

Síndrome da larva migrans visceral ou toxocaríase visceral – em que ocorre a migração das larvas do parasita para diferentes partes do corpo humano, incluindo cérebro, pulmões e fígado, causando uma variedade de sinais e sintomas, e geralmente acomete mais crianças pré-escolares, entre 2 e 7 anos de idade.

Quais as diferenças entre larva migrans visceral e larva migrans cutânea?

Larvas migrans cutânea, conhecida popularmente como bicho-geográfico é uma dermatose provocada por parasitas nematódeos Ancylostoma braziliense e Ancylostoma caninum, presentes no intestino e nas fezes de cães e gatos. A transmissão para humanos ocorre pelo contato direto das larvas infectantes existentes no solo contaminado por fezes de animais.

Essas larvas conseguem penetrar na pele desprotegida e começam a se deslocar no tecido subcutâneo, dando um aspecto de mapas. Já a larva migrans visceral é causado pelos Toxocara canisToxocara cati, que também possuem como hospedeiros definitivos cães e gatos e são transmitidos pela ingestão de larvas ou ovos desses parasitas. Dentro do corpo humano esses parasitas atingem diversos tecidos e órgãos.

Como é o ciclo do Toxocara canis?

Toxocara canis realiza seu ciclo de vida em cães. A infecção é observada com maior frequência em filhotes, e praticamente todos são infectados por transmissão transplacentária e transmamária. Os filhotes infectados completam o ciclo em três a quatro semanas após o nascimento, quando são capazes de eliminar ovos de Toxocara canis nas fezes para o meio ambiente (200.000 ovos/dia).

Além disso, os cães podem se contaminar através da ingestão de ovos infectantes, presentes no solo. Quando ingeridos por cães jovens, esses ovos eclodem no intestino; e as larvas penetram a parede intestinal migrando para os pulmões, alcançando a traqueia. Elas então são deglutidas e retornam ao trato gastrointestinal, onde se desenvolvem até a sua forma adulta. Em um mês o ciclo já está completo e começam a aparecer ovos nas fezes. 

A infecção humana ocorre de maneira acidental através da ingestão de ovos presentes no solo ou em alimentos contaminados, ou pela ingestão de larva de T. canis, presentes em tecidos crus ou mal cozidos de hospedeiros paratênicos, como vacas, ovelhas e galinhas. Após a ingestão dos ovos, as larvas eclodem e desenvolvem-se no intestino posteriormente migram para diversos órgãos (fígado, pulmão, coração e cérebro), levando ao desenvolvimento da toxocaríase visceral. 

Larva migrans visceral toxocaríase

(Fonte: Adaptado de Chavez, 2017)

Qual a morfologia das larvas do Toxocara canis?

O Toxocara canis um nematódeo dioico, ou seja, apresenta formas morfologicamente distintas para machos e fêmeas. Os vermes adultos vivem no intestino delgado de seu hospedeiro definitivo, possui corpo cilindro alongado e delgado. As fêmeas medem cerca de 6,5 cm podendo chegar até 15 cm de comprimentos enquanto os machos de 4 a 6 cm.

Larva migrans visceral (toxocaríase) larvas do Toxocara canis
Larvas de Toxocara canis (Fonte: Joy, 2017).

Quais os principais sintomas da larva migrans visceral?

No caso da toxocaríase visceral, em que as larvas migram para vários tecidos do corpo humano, podemos observar uma ampla gama de sinais e sintomas clínicos, sendo os mais observados:

  • Febre;

  • Fadiga;

  • Dor abdominal,

  • Vômito;

  • Diarreia;

  • Perda de peso;

  • Sintomas respiratórios inferiores, como tosse, chiado no peito, asma;

  • Manifestações cutâneas, como prurido, eczema e vasculite.

  • Hepatomegalia; conhecido também como aumento do fígado

 

Como é realizado o diagnóstico da larva migrans visceral?

O diagnóstico da toxocaríase humana é muito difícil, pois a confirmação definitiva só é realizada através da identificação de larvas presente em biópsia dos tecidos acometidos, uma vez que por não ser hospedeiro definitivo a microscopia de fezes (padrão-ouro) se torna ineficaz. No entanto, é possível detectar a presença de anticorpos circulantes no soro do paciente por meio de exames de imunodiagnóstico (ELISA).

Além disso, fatores clínicos, indicadores secundários de infecção (eosinofilia e hipergamaglobulinemia das classes de imunoglobulina IgM, IgG e IgE), exames de imagem (ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética) e técnicas moleculares, baseadas na reação em cadeia da polimerase (PCR) para identificação do DNA de larvas presentes em amostras de tecido, podem ser bastante úteis para o diagnóstico.

Qual o modo de transmissão da larva migrans visceral?

A transmissão para humanos ocorre por via oral-fecal, ou seja, pela ingestão de ovos contaminados ou larvas que podem estar presentes em:

  • Solo, grande fonte de contaminação para as crianças que tocam no chão e transferem os ovos das mãos para a boca;

  • Consumo de alimentos, como vegetais ou frutas, que não foram higienizados corretamente;

  • Consumo de carne crua ou mal cozida de animais contaminados, considerados hospedeiros paratênicos, como coelho, galinha, porco.

 

Qual o tratamento da larva migrans visceral?

O tratamento é realizado com a utilização de medicamentos anti-helmínticos como Albendazol e Mebendazol, sendo ambos prescritos duas vezes ao dia por cinco dias ou de acordo com a recomendação médica.  

Como é a prevenção da larva migrans visceral?

As medidas preventivas, em geral, são ações de fácil reprodução:

  • Cuidar dos animais domésticos: não deixar solto na rua, vacinar, vermifugar;

  • Tratar os animais infectados seguindo as recomendações de um médico veterinário;

  • Limpar regularmente a caixa de areia do gato;

  • Recolher e descartar as fezes dos animais, no intuito de impedir a contaminação dos solos, pois podem conter ovos de Toxocara;

  • Lavar as mãos sempre antes das refeições, após manipular solo ou entrar em contato com animais de estimação;

  • Lavar bem todas as frutas e verduras e cozinhar bem as carnes antes de comer;

  • Restringir o acesso de cães e gatos a jardins, parques infantis e outros locais onde as crianças possam ser expostas aos ovos embrionados deste parasita.

Referências

CHÁVEZ, J. P.B. et al. Toxocariosis humana en el Perú: aspectos epidemiológicos, clínicos y de laboratorio. Acta Médica Peruana, v. 28, n. 4, p. 228-236, 2011.

JOY, Anunobi Toochukwu; CHRIS, Okoye Ikem; GODWIN, Nwosu Chigozie. Toxocariasis and public health: an epidemiological review. Glob J Infect Dis Clin Res, v. 3, n. 1, p. 28-39, 2017.

WOODHALL, Dana M.; FIORE, Anthony E. Toxocariasis: a review for pediatricians. Journal of the Pediatric Infectious Diseases Society, v. 3, n. 2, p. 154-159, 2014.

Autora

Renata Santana da Silva

Biomédica, Mestre e Doutorando em Genética

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