Toxicologia Forense: Detecção de Drogas em Amostras Biológicas

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A toxicologia forense surgiu a partir do contato do homem com a natureza. Foi nesse ambiente que se descobriu que compostos podiam gerar danos à saúde do ser humano.

Foi somente após a descoberta dessas substâncias tóxicas que se iniciaram os estudos a respeito das características desses compostos. Eles foram denominados posteriormente de venenos.

Atualmente, há uma identificação química para cada uma dessas substâncias. E isso promove o conhecimento a respeito das diferentes moléculas químicas que podem causar danos e lesões à saúde humana.

Por essa razão, na toxicologia forense há o estudo para a detecção desses compostos e substâncias. Assim como também há formas de realizar a prevenção dessas substâncias, que podem causar intoxicações nos organismos vivos, Isso inclui o ser humano, bem como todos os demais animais.

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Toxicologia Forense: Análises Toxicológicas em Amostras Biológicas

A coleta de amostras é uma das fases mais difíceis e delicada do processo de exame toxicológico. As amostras de fios de cabelo e pelos são as mais complicadas de serem executadas, devido à complexidade da matriz.

Para garantir o resultado preciso dos exames toxicológicos, é necessária a boa execução do trabalho do coletador. Ele deve ser ético e ter cuidado para não alterar o material colhido. Então, existe um protocolo que deve ser respeitado, começando pela correta identificação do doador por meio de documento oficial com foto e etiquetagem correta. Além disso, deve-se ter cuidado com a transferência segura da amostra até o laboratório de análise. Tudo isso para que possa comprovar a rastreabilidade da amostra coletada.

Após garantir a devida condição para análise, contendo a assinatura do responsável pela coleta com a embalagem vedada sem sinais de alteração, o analista pode iniciar o exame para averiguar substâncias toxicológicas na amostra.

 

Toxicologia Forense: Triagem da amostra biológica

No geral, o ensaio imunoenzimático é utilizado para a realização da triagem da amostra. Quando há necessidade de realização de mais um teste, este geralmente é realizado em cromatografia líquida ou gasosa, pois esse tipo de equipamento possui a sensibilidade necessária para a confirmação de substâncias toxicológicas presentes na amostra.

Um passo importante é garantir a extração adequada das substâncias de interesse da amostra, para isso são utilizadas técnicas específicas para a detecção dessas substâncias, variando de acordo com o analito a ser monitorado e de acordo com o tipo de amostra a ser analisada.

Esse tipo de procedimento tem essa metodologia empregada de acordo com os parâmetros internacionais, onde necessita-se de validação do método e garantia da exatidão e reprodutibilidade do dado encontrado, evitando assim erros e falsos positivos que podem comprometer o doador da amostra coletada.

Em relação ao resultado após a análise das amostras, é importante saber interpretar o resultado obtido do teste. Para isso, se torna importante a interpretação de alguém que possua conhecimento no assunto para analisar o resultado, averiguando se houver biotransformações do analito na amostra.

Um fato importante é que para cada tipo de amostra, há um tipo de mecanismo químico e bioquímico diferente, portanto é importante ter o conhecimento desses mecanismos, a fim de monitorar possíveis intermediários do analito que podem ser metabolizados e transformados pelo corpo.

Dessa forma, é importante garantir que a execução da coleta da amostra, assim como o emprego das técnicas analíticas de extração e detecção dos compostas sejam executadas conforme está estabelecido nos critérios de qualidade que avaliam os resultados obtidos, evitando assim resultados divergentes.

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Coleta de Sangue, Urina e Outros Tecidos

No caso de coletas in vivo, amostras como soro, urina, cabelo e conteúdo gástrico podem ser analisadas, enquanto que em situações de post-mortem é de maior relevância a análise de sangue, urina, conteúdo gástrico, humor vítreo e órgãos humanos, (especialmente o fígado, mas podem ser investigados também o rim, a bile, o pulmão, o baço, o músculo esquelético e o cérebro).

Para escolher qual amostra será utilizada nas análises toxicológicas, é importante considerar a especificidade de cada situação, bem como o tipo de análise que se deseja realizar, isto é, o que será investigado, a partir das suspeitas levantadas.

Isso variará de caso para caso, pois pode ocorrer de se precisar apenas de uma coleta em específico ou casos em que mesmo com várias amostras coletadas, ainda se terá determinada incerteza.

Nesse sentido, somente as amostras de sangue não são suficientes quando se tem o corpo em condições de putrefação avançada, exumação do corpo ou morte por choque traumático. Assim, é preciso apelar para outras matrizes alternativas e complementares, a fim de que se tenha com exatidão a determinação analítica da quantidade do provável tóxico presente no sangue.

 

Encontrando o motivo da morte

De acordo com a legislação europeia, em qualquer situação de suspeita de intoxicação e/ou em que a autópsia não foi suficiente para encontrar o motivo da morte, deve-se incluir à análise as seguintes amostras: sangue periférico, urina, conteúdo gástrico, bile, fígado e rim, uma vez que essas matrizes permitem a identificação de uma larga variedade de grupos tóxicos, como as substâncias psicoativas, os hipnótico-sedativos, os cardiotônicos, os analgésicos e as várias classes de pesticidas.

Por último, cabe destacar que para garantir a reprodutibilidade dos resultados, são feitos ensaios e, no mínimo, triplicata, sendo preciso então se ter uma quantidade de amostra considerável, onde o ideal é sempre realizar a coleta em excesso, garantindo assim o sucesso analítico dos resultados obtidos. pós morte droga post mortem toxicologia forense entorpecente

Aspectos Post Mortem de Relevância Toxicológica

Quando as análises laboratoriais são feitas em situação de Post Mortem, essas são utilizadas com o intuito de investigar as causas da morte do indivíduo, por meio de amostras de fluidos corporais e outros tecidos coletados durante a autópsia.

Para isso, é preciso que as análises laboratoriais forenses sejam realizadas em um Instituto de Medicina Legal (IML). Isso se deve ao fato de se tratarem de situações legais, como nos casos de crimes, violência, suicídios, acidentes ou quaisquer outros tipos de negligência contra a vida.

Cabe salientar que nesse tipo de análise, o tempo é um fator determinante, visto que à medida em que se transcorre, torna-se cada vez mais complicado coletar amostras de qualidade para o ensaio laboratorial devido às alterações autolíticas e putrefação que ocorrem naturalmente após a morte. 

Considerando isso, as análises devem ser feitas rapidamente. Isso evita que os processos de redistribuição e lise celular alterem as concentrações dos xenobióticos no organismo. Xenobióticos são substâncias estranhas ao corpo, que possuem a capacidade de alterar os mecanismos funcionais do sistema neuroendócrino e a toxicidade genética.

Ainda nesse sentido, a concentração dos xenobióticos é dada de forma gradativa, o que pode interferir diretamente na interpretação dos resultados, visto que entre o intervalo do momento da morte e a amostragem para a autópsia as concentrações aumentam exponencialmente, logo quanto maior o tempo para a coleta da amostra, maior a concentração de xenobióticos nos tecidos circundantes.

 

Ação de microrganismos post-mortem

Outro fator que deve ser levado em conta nas análises post-mortem é quanto a ação de microrganismos no corpo. Assim como o processo de fermentação da glicose. Esses processos fazem com que se produza uma quantidade de álcool no organismo. E é muito importante que isso seja levado em conta na hora da interpretação dos resultados obtidos.

Pode haver casos em que os resultados apresentados gerem incertezas quanto à quantidade analítica das determinadas drogas analisadas nas amostras coletadas, decorrente de um fenômeno conhecido como Redistribuição Post-Mortem (RPM), que nada mais é do que a difusão e redistribuição dos xenobióticos. Nessas ocasiões, é preciso então coletar múltiplas amostras de locais diferentes do corpo, a fim de realizar a comparação entre esses resultados e ter um panorama mais preciso e exato sobre o resultado.

Para ajudar nas interpretações dos resultados, é fundamental que o analista tenha conhecimento sobre o indivíduo da autópsia. Informações como estilo de vida, antecedentes pessoais, histórico clínico, dose presumível do xenobiótico são muito importantes. Além disso, informações sobre o local em que o corpo foi encontrado, circunstâncias imediatas da morte, entre outras, também podem ajudar muito. 

 cromatografia espectrometria de massa toxicologia forense analítica gcms droga entorpecenteTécnicas Analíticas Comumente Empregadas na Toxicologia Forense

O procedimento analítico na Toxicologia Forense deve ser feito com todo cuidado e conhecimento, a fim de evitar resultados errôneos. Na figura 1 abaixo você acompanha a sequência dos procedimentos aplicados na análise das amostras.

 

toxicologia forense Sequência analíticaFigura 1: Sequência analítica empregada nos procedimentos de toxicologia forense. Fonte: Rangel, 2004.

 

Assim, com relação à parte analítica, primeiramente é feito um teste de triagem. Este tem por objetivo detectar diversas substâncias presentes na amostra coletada. Isso garante, então, que seja feita uma triagem nas amostras negativas. Somente após isso que se dá início aos métodos analíticos de confirmação da substância suspeita.

Dentre as principais técnicas de análise toxicológica forense, as com maior sensibilidade e especificidade são os imunoensaios, a cromatografia gasosa (GC) e a cromatografia líquida (LC).

As técnicas cromatográficas apresentam diversos benefícios nesse tipo de análise toxicológica. Elas podem identificar e detectar drogas e compostos secundários, pois são técnicas analíticas de referência na Toxicologia Forense. Além disso, elas apresentam sensibilidade, seletividade e confiabilidade nos resultados gerados. O que promove uma análise satisfatória.

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Considerações finais

É de suma importância o processo de amostragem, visto que existe uma boa variedade quanto ao tipo de matriz que pode ser analisada. Esse cuidado ajuda a reforçar os resultados encontrados.

Nesse sentido, é fundamental uma apropriada seleção da amostra a se analisar. Assim como cuidado no momento da coleta, posterior armazenamento e conservação da matriz biológica de estudo. Essas etapas serão cruciais para garantir resultados confiáveis e exatos.

Ainda assim, as técnicas analíticas para a interpretação dos resultados vem se modernizando cada dia mais. Hoje muitos métodos clássicos não são mais indicados, visto que devemos gerar análises de alta sensibilidade. Tudo isso se faz necessário para que seja possível uma detecção adequada dos analitos (drogas e metabólitos). Lembrando que na maioria das vezes eles estão em baixa concentração e presentes em matrizes complexas.

Além disso, destaca-se que não basta a geração dos resultados, sendo essencial interpretá-los adequadamente. Todas as variáveis envolvidas devem ser levadas em consideração. Isso envolve os resultados toxicológicos, até o local da coleta e as informações acerca do indivíduo.

 

Referências

Leonardo Fernandes Martins, Laisa Marcorela Sartes, Tatiana de Castro Amato. Epidemiologia do uso de substâncias psicotrópicas em Minas Gerais e no Brasil. Acesso: http://www2.unifesp.br/dpsicobio/Nova_versao_pagina_psicobio/CAPITULO2EPIDEMIOLOGIADOUSO.pdf?fbclid=IwAR2jLiznG4_AUUUJaEm_0jegikh7mWiaCIfNEFYcAKPMBrRsE_D0BszehKE

PASSAGLI, M.; Toxicologia forense – teoria e prática. 5.ed. Campinas-SP: Editora Millennium, 2018. 522p. ISBN: 978-85-7625-354-9.

PLANETA, Cleopatra S.; CRUZ, Fábio C.. Bases neurofisiológicas da dependência do tabaco. Rev. psiquiatr. clín.,  São Paulo ,  v. 32, n. 5, p. 251-258, 2005.

São Paulo (Cidade). Secretaria Municipal da Saúde. Coordenadoria de Vigilância em Saúde. Divisão de Vigilância Epidemiológica. Núcleo de Prevenção e Controle das Intoxicações. Manual de Toxicologia Clínica: Orientações para assistência e vigilância das intoxicações agudas / [Organizadores] Edna Maria Miello Hernandez, Roberto Moacyr Ribeiro Rodrigues, Themis Mizerkowski Torres. São Paulo: Secretaria Municipal da Saúde, 2017. 465 p

https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/48554/1/M_Marcia%20Lisboa.pdf

 

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