Hemoterapia: componentes do sangue, fracionamento, formas e indicações

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Na história mundial da medicina, o sangue sempre teve posição de destaque e é usado para fins terapêuticos pelo homem desde muitos séculos atrás. Para Veloso et al. (2013), a história da hemoterapia se desenvolveu em duas etapas: empírica e científica.

 

História da Hemoterapia – Etapa Empírica

Nesta primeira etapa, a hemoterapia foi disputada entre o universo místico e o científico, onde o sangue de pessoas ou de animais era utilizado para os antigos beberem ou se banharem, a fim de fortalecer o organismo e curar doenças. Nessa fase também, podemos citar os gregos, que, com o objetivo de tratar certas doenças, usavam a retirada do chamado “sangue ruim”. Essas formas de utilização do sangue foram o ponto inicial de investigações e estudos mais aprofundados em relação à transfusão.

 

História da Hemoterapia – Etapa Científica

Então, no começo do século XX, se desenvolvia a etapa científica da história da hemoterapia, embora com a efetuação ainda empírica de transfusões, sem que fosse examinada a compatibilidade sanguínea. Nesse primeiro momento, a realização da transfusão de sangue era denominada “doação braço a braço”, ou seja, feita de maneira direta do doador para receptor. Os grupos sanguíneos ABO foram descobertos em 1901, por Karl Landsteiner e a primeira transfusão feita com esse conhecimento e possibilidade de exames de compatibilidade ABO, ocorreu em 1907.

Logo após, com o descobrimento do fator Rh, soluções que preservam e que possuem efeito anticoagulante do sangue, a invenção das bolsas de sangue, a medicina transfusional foi reconhecida como especialidade médica.

 

Hemoterapia – Segurança do Paciente

A hemoterapia se transformou em um método que pode salvar vidas. É um recurso muito utilizado na prática clínica para o tratamento de doenças com morbidade e mortalidade significativas. Entretanto, assim como outros tratamentos mais invasivos, pode causar complicações a curto ou longo prazo, além do risco de contrair doenças transmissíveis pela transfusão, como sífilis, vírus da hepatite, HIV, doença de Chagas e malária.

De acordo com a OMS, uma atenção especial deve ser voltada à segurança, ao sangue que será transfundido e ao próprio ato de transfusão. E para isso, é necessário que o sangue e seus componentes sanguíneos sejam seguros, realizando todos os processos de análise do indivíduo doador até a coleta, manuseio e forma de transporte adequadas, assim como seu uso clínico correto.

Devido a esses fatores, a decisão de se aplicar a hemoterapia ao paciente deve ser cuidadosa, levando em conta a avaliação e as necessidades individuais do paciente, as indicações clínicas e laboratoriais.

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Fatores determinantes que podem indicar a necessidade de hemoterapia

– Perda sanguínea, sendo por sangramento externo; sangramento interno não traumático, que engloba gravidez ectópica, varizes, úlcera péptica, ruptura de útero e hemorragia no parto, por exemplo; sangramento interno traumático que envolvem hemorragia em baço, fêmur, pelve e pulmão; e ainda, destruição de hemácias por HIV, sepse ou malária.

– Hemólise, por malária, CIVD ou sepse, por exemplo.

– Estado de oxigenação tecidual e cardiorrespiratório: envolvem a avaliação minuciosa da frequência respiratória, pressão arterial, pulso, pulsos periféricos, preenchimento capilar, dispneia, insuficiência cardíaca, temperatura das extremidades, angina, débito urinário e nível de consciência.

– Avaliação da anemia: De forma clínica, analisar palma das mãos, unhas, olhos e língua; e de modo laboratorial, o hematócrito ou hemoglobina.

– Deve ser avaliada também a tolerância do indivíduo à anemia ou à perda de sangue, de acordo com a idade ou outro estado clínico como insuficiência renal, patologia pulmonar crônica, diabetes mellitus, infecção aguda, toxemia da pré-eclâmpsia, tratamento com beta-bloqueadores, ou distúrbio cardiorrespiratório.

 

Hemoterapia – Formas de terapêutica

A forma de tratamento por meio de transfusão, a hemoterapia, resume-se em utilizar o sangue total, seus componentes e derivados (plaquetas, hemácias, derivados plasmáticos e granulócitos) com o objetivo de recuperar o volume sanguíneo ou componentes sanguíneos específicos, de acordo com a indicação ou necessidade do paciente presente.

Vários componentes hemoterápicos podem ser obtidos pelo fracionamento da bolsa de sangue, que são obtidos a partir da separação em procedimentos laboratoriais diferenciados, e possuem validade e formas de armazenamento distintas.

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Componentes do Sangue e Fracionamento

Esse fracionamento permite diversas utilidades diferentes de tratamento, podendo ser administrados em doses fracionadas e mais específicas, além de possibilitar o beneficiamento de um número maior de pacientes. Isso dá origem a uma diversidade de tipos de componentes, como concentrado de granulócitos, concentrado de plaquetas; concentrado de hemácias (lavadas com salina, pobre em leucócitos, congeladas e hiperconcentrado de hemácias); plasma (fresco, congelado e comum); crioprecipitado, fator VIII liofilizado; fator IX liofilizado; fatores II, VII, IX e X liofilizados; albumina; antitrombina III; imunoglobulina sérica e imunoglobulina Rh.

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Sangue total

O uso do sangue total, ou seja, sem o fracionamento e divisão de seus componentes, é indicado em situações onde é necessário a elevação da massa de células vermelhas e do volume plasmático. No entanto, atualmente, a transfusão do sangue total é mais restrita, tendo em vista que a terapêutica dos seus componentes e derivados é mais específica e traz a possibilidade de favorecer uma quantidade maior de pacientes.

 

Concentrado de Hemácias

O concentrado de hemácias é obtido através de centrifugação ou sedimentação em macrocentrífugas refrigeradas. Ele é o resultado da retirada do plasma, onde sobram apenas as células vermelhas que formam o concentrado de hemácias propriamente dito. Essa remoção do plasma diminui o risco de certas reações alérgicas e hemolíticas à transfusão. É indicado no reestabelecimento da anemia grave (elevando a massa eritrocitária), insuficiência cardíaca congestiva, cirrose hepática, leucemias, queimados, idosos, anemia crônica, debilitados e caquéticos.

 

Concentrado de Granulócitos

O concentrado de granulócitos é obtido a partir da aférese ou do sangue total. Ele comporta linfócitos, granulócitos, plaquetas, algumas hemácias e é diluído com 200 a 300 ml de plasma. É recomendado seu uso em desordens malignas e infecções de alta gravidade, em pacientes neutropênicos e em neonatos em sepse.

 

Componente Crioprecipitado

O componente crioprecipitado é a porção do plasma insolúvel ao frio. É alcançado por meio do rápido congelamento do plasma à -80°C de temperatura, seguido por seu descongelamento lento e completo à 1 a 6 C. Após isso, o produto crioprecipitado é desmembrado do plasma e congelado a – 18°C. Esse componente é composto por fator de Von Willebrand, fatores I, VIII e XIII e fibrinogênio. É indicado no tratamento de hemofilias leves, doença de Von Willebrand, fibrinólise, afibrinogenia, na deficiência de fibrinogênio e dos fatores VIII (hemofilia A) e XIII.

 

Plasma Fresco e Congelado

O plasma tanto fresco quanto congelado é obtido através da doação de sangue individual. Por possuir anticorpos naturais do sistema ABO, antes da transfusão, deve ser averiguada a compatibilidade do receptor. O plasma fresco congelado não possui plaquetas ou células. Ele é composto por todos os fatores de coagulação e é recomendado na terapêutica de algumas coagulopatias. O plasma comum é obtido após um ano de estocagem do plasma fresco congelado e não possui os fatores de coagulação lábeis, sendo mantidos apenas os fatores estáveis de coagulação.

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Concentrado de Plaquetas

Já o concentrado de plaquetas pode ser obtido por meio da doação clássica ou por aférese. É composto por leucócitos, algumas hemácias e plasma, em pequena concentração. É indicado em sangramentos significativos por trombocitopatia ou trombocitopenia, em indivíduos onde as plaquetas se encontram inferiores a 10.000/mm3.

 

Fatores VIII e IX

Os fatores VIII e IX contém o próprio fator e certa proteínas plasmáticas, e são recomendados em deficiências específicas. A albumina é alcançada com base no plasma e a própria albumina além de algumas globulinas a e b são seus componentes. Recomendada como tratamento na reposição de hipoproteinemias, nas perdas significativas de sangue e plasma e para elevar o volume sanguíneo circulante.

 

Imunoglobulina Séria

A imunoglobulina sérica é composta por anticorpos Ig G, e é usada na prevenção de certas doenças, na trombocitopenia autoimune e no tratamento de hipo ou agamaglobulinemia. A imunoglobulina Rh é composta por Ig G anti-D e é utilizada na profilaxia da doença hemolítica do recém-nascido. E, por fim, a antitrombina III, é indicada na terapêutica da deficiência de antitrombina III.

Para finalizar, podemos observar que a hemoterapia é um recurso terapêutico muito importante. Porém ele deve ser administrado de maneira cuidadosa, levando em conta a avaliação completa do paciente. Além disso, precisamos checar a procedência dos materiais. Mas ela é uma terapia que auxilia no tratamento de diversas patologias, podendo ser benéfico a vários tipos de pacientes.

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Referências

OMS. O uso clínico do sangue na medicina, obstetrícia, pediatria e neonatologia, cirurgia e anestesia, traumas e queimaduras. Disponível em: <http://www.who.int/bloodsafety/clinical_use/en/Module_P.pdf?ua=1>. Acesso em: 15 set 2017.

SAMPAIO, Divaldo de Almeida. Cenário Político, Social e Cultural da Hemoterapia no Brasil. Editora MS, Brasília, 2013. Acesso em: 14 set 2017.

SOUZA, Maria Helena L.; ELIAS, Decio Oliveira. Princípios de hematologia e hemoterapia. Perfusion line, Alfa Rio. Rio de Janeiro, ed. 2, 2005.  Acesso em: 15 set 2017.

VELOSO, Deise Vicente Oliveira; PINHEIRO, Diná; RODRIGUES, Rosane Suely May; BORGES, Roseli de Lourdes Sandrin. Promoção da Doação Voluntária de Sangue e de Medula Óssea. Editora MS, Brasília, 2013. Acesso em: 14 set 2017.

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